“Corneta da produtividade” na BRF: mais uma inovação para piorar o ambiente de trabalho.
- Observatório Frigoríficos
- há 2 dias
- 2 min de leitura
Atualizado: há 1 dia
Wagner do Nascimento - Presidente do SINTAC (Carambeí - PR)
06 de julho de 2025
Recentemente, tivemos notícias de que a BRF foi condenada devido ao fato de uma gestante de gêmeos com dor na barriga ter sido impedida de sair da linha de produção e ir ao Hospital imediatamente. Segundo artigos publicados na imprensa, essa decisão de não autorizar a saída de gestante com dor foi do encarregado local e culminou com a morte de ambos os bebês, que nasceram no ponto de ônibus.
Agora, na BRF de Carambeí, temos uma novidade recém-instalada: a “corneta da produtividade”. Segundo relatos, a intenção é que não ocorra queda do ritmo de trabalho por parte dos trabalhadores na linha de produção. Antes da instalação da corneta as paradas ocorriam sempre que a velocidade da linha era muito elevada ou que os trabalhadores da Inspeção Federal julgassem que o frango não estava adequado para seguir na linha de produção. Depois da instalação da corneta, as paradas foram reduzidas drasticamente, pois os trabalhadores fazem qualquer coisa para evitar o som estridente dessa nova ferramenta que a BRF está usando para inibir paradas na produção, “Parece buzina de navio”, reclama um trabalhador que foi até o sindicato.
Perguntado a respeito, o médico do trabalho Roberto Ruiz, que recentemente defendeu seu doutorado sobre o tema de doenças do trabalho em frigoríficos, explica que “níveis de ruído acima de 80 decibéis já podem alterar a saúde de pessoas mais sensíveis, e a legislação coloca um limite de 85 decibéis para trabalho nas indústrias” e complementa Ruiz “o fato é que a instalação desse dispositivo (a corneta) pode piorar muito o ambiente de trabalho, e prejudicar não apenas a audição dos trabalhadores, mas pode aumentar o estresse no trabalho, contribuindo para a ocorrência de diversas enfermidades, desde patologias psíquicas, até hipertensão arterial, conforme publicações científicas que já conhecemos há algum tempo. Imaginem o efeito disso para uma gestante então, como temos várias nas linhas de produção dos frigoríficos”. E lembra também que ”dependendo do nível de ruído da corneta, a empresa ainda teria que pagar a insalubridade por ruído ao pessoal que trabalha no setor”.
Um diretor do nosso sindicato relatou ainda que um alto dirigente da empresa em Carambeí disse publicamente: “Quero que esse barulho seja o mais alto possível, dessa forma a produção aumenta!”. Dirigentes sindicais ponderam: será que as gerências da empresa iam achar bacana colocar a corneta nos escritórios deles, para tocar assim que eles parassem de trabalhar por um minuto?.
O SINTAC irá procurar a gestão da empresa local, ou a nacional se necessário, o mais breve, para exigir a retirada imediata do aparato de produtividade inventado em Carambeí, ou irá procurar o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Justiça e outras entidades nacionais e internacionais para corrigir tal situação, no caso de resistência da empresa local.
O vídeo acima gravou uma corneta em um ambiente de produção fabril. E detalhe: o vídeo foi gravado a uma certa distância de onde ela foi instalada.
Comments