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Carambeí-PR e os efeitos da “corneta da produtividade”: frigoríficos lideram afastamentos por doenças do trabalho

  • Foto do escritor: Observatório Frigoríficos
    Observatório Frigoríficos
  • 8 de jul.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 9 de jul.

(Foto: Paulo Whitaker/Reuters)
(Foto: Paulo Whitaker/Reuters)

Fernando Mendonça Heck - Professor de Geografia no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e pesquisador do Obagro.

08 de julho de 2025


O Obagro publicou recentemente a notícia “Corneta da produtividade” na BRF: mais uma inovação para piorar o ambiente de trabalho”, de autoria do dirigente sindical Wagner do Nascimento, na qual mostra que no município de Carambeí-PR a empresa Brasil Foods adotou uma corneta que é acionada em momentos diminuição do ritmo de trabalho, segundo avaliação dos gestores da fábrica .


A matéria mostra que a adoção desse mecanismo tem pressionado trabalhadoras e trabalhadores, inclusive influenciando na redução de pausas durante as jornadas de trabalho. Segundo a legislação específica do setor, a Norma Regulamentadora 36 (NR 36), é necessário que sejam realizadas pausas de acordo com a duração das jornadas de trabalho, descrevendo três modalidades: a) em jornadas de até 6h20min o tempo de pausa é de 20 minutos; b) em jornadas de até 07h40min o tempo de pausa é de 45 minutos; c) em jornadas de até 09h10 o tempo de pausa é de 60 minutos[1].


Não há dúvidas de que qualquer mecanismo de gestão aplicado ao trabalho em frigoríficos – caracterizado pelo ritmo intenso e repetitivo de trabalho das linhas de produção – que reduza as pausas contribui significativamente para o aumento do risco de acidentes e doenças do trabalho.


Os dados para o município de Carambeí-PR demonstram isso, pois nos últimos doze anos, segundo os dados da Previdência Social sistematizados pelo Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (ODSST/Smartlab[2]), o setor de abate de suínos aves e outros pequenos animais (CNAE 1012-1) representou 24,2% de todos os afastamentos previdenciários (B-31) e 19,7% (B-91). Em ambos os casos quando comparado a todos os outros setores econômicos presentes no município, o referido setor ocupa a liderança dos agravos à saúde do trabalhador que resultaram nos afastamentos do trabalho. Vejamos os dados para o ano de 2024 considerando os 10 setores econômicos que mais geraram afastamentos do trabalho (B-31) em Carambeí-PR (Gráfico 1 - clique no gráfico para visualizá-lo ampliado).


Gráfico 1 – 10 principais setores econômicos CNAE que mais geraram afastamentos do trabalho na cidade de Carambeí-PR (2024)

Fonte: Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (ODSST/Smartlab). Organização Fernando Mendonça Heck.
Fonte: Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (ODSST/Smartlab). Organização Fernando Mendonça Heck.

É importante considerar que apesar de os dados sobre saúde do(a) trabalhador(a) apresentarem a subnotificação como regra, ainda assim, o setor de frigoríficos ocupa lugar de destaque no que se refere aos agravos a saúde do trabalhador no município de Carambeí.


No que se refere ao perfil dos afastamentos relacionados a Classificação Internacional das Doenças (CID), prevalece no município para o período de 2012-2024 as fraturas, doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo, traumatismos e do aparelho digestivo, considerando as duas modalidades (B-91 e B-31) de afastamento previdenciário. Deste modo, não há dúvidas de que os afastamentos do trabalho estão associados às atividades repetitivas e intensas nas linhas de produção dos quais as linhas de produção frigoríficas são exemplares.


Ao observar mais detalhadamente os afastamentos específicos em frigoríficos no município, considerando o setor de abate de suínos, aves e outros pequenos animais para o período de 2012-2024 se percebe que: a) 45,5% dos registros B-91 estão associados às doenças osteomusculares e tecido conjuntivo; b) 32,6% dos registros B-31 relacionam-se com as doenças osteomusculares e tecido conjuntivo (19,6%) e mentais e comportamentais (13%).


Isso significa que os afastamentos do trabalho no setor de frigoríficos, mesmo com os dados subnotificados, indicam que há forte relação entre o processo de trabalho desempenhado nas linhas de produção e as doenças verificadas. Então, qualquer mecanismo de gestão que implique no aumento da pressão por produtividade e reduza as pausas previstas em lei, como é o caso da “corneta da produtividade”, contribui para a piora das condições de trabalho que podem resultar em agravos à saúde do(a) trabalhador(a).


(1) Notas:



(2) Nota de posicionamento da empresa enviada em 08/07/2025:

 

A BRF esclarece que o sinal sonoro presente na linha de produção não tem relação com produtividade, mas sim com a segurança operacional e de todos os colaboradores. O alerta avisa o momento em que a linha de produção retornou à operação, e é previsto na Norma Regulamentadora 12 (NR-12), que norteia as operações industriais no Brasil e é estritamente seguida pela BRF. A empresa informa, ainda, que realizou ajustes no volume da sirene, mas esclarece que todos os colaboradores atuam com protetores auriculares, conforme previsto na NR-6.

 
 
 

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